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quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Manuel Fúria Contempla Os Lírios Do Campo


A Revolução da Esperança

Há esta certeza que faz falta proclamar: Manuel Fúria é um subversivo. Melhor ainda: um subversivo com uma missão. Acredita e pratica o que louva - valores e actos que, mais do que anacrónicos, são mal vistos pelo espírito deste tempo. Utiliza sem medo palavras como «pátria», «amor», caridade», «coração», «bondade», «rei», «fé», «rapariga», «noiva», «Cristo», «contemplação», «mistério», «alma». Para ele, tudo se poderia resumir num único vocábulo indizível que tem urgência de partilhar. E essa urgência é a razão de ser da sua arte e da extrema necessidade de fazer.

«Quero ver Lisboa a arder», anuncia ele no início da nova aventura-manifesto que é este disco, Manuel Fúria contempla os lírios do campo. A referência bíblica, para além de assumida, assalta-nos por uma estranha beleza proselitista, apenas porque pressentimos que ele crê sinceramente e isso é tão raro. O que seduz de imediato na arte e na personalidade do Manuel Fúria (e aqui chegados, permiti que o que assina estas linhas se intrometa ainda mais pessoalmente nesta conversa e confesse a sua amizade) é que tanto numa como noutra a verdade não se sobrepõe à sinceridade: valem o mesmo, e são indissociáveis. Outros criadores ou interpretes são genuinamente sinceros no momento em que transmitem sentimentos ou intenções, para depois os abandonarem; Fúria é verdadeiro, de uma forma absolutamente sincera.

Assim, rodeado de cúmplices de excelência que não por acaso se intitulam de Náufragos (na eterna espera, numa eterna deriva, numa angustiante liberdade), Manuel Fúria canta aquilo em que acredita, lamenta o que se perdeu mas reclama a possibilidade da esperança. O que esta colecção de cantigas sugere é uma visão de um mundo límpido e espiritual, onde o essencial é possível, e que esse mundo poderia começar em Portugal. Infelizmente, e como chegou a dizer numa entrevista, « Portugal ainda não é».Esta ontologia de Portugal teria assim de partir de um reino de amor e de festa. Se existem tentações - a cidade como Babilónia é assumida logo em Estandarte e lembrou-me uma das minhas passagens bíblicas preferidas:"Não deixes errar os olhos pelas ruas da cidade nem vagueies por seus lugares solitários" (Sir, 9, 7) - todas serão vencidas pelo Amor e pela Festa (Que Haja Festa Não Sei Onde). Desenganem- se no entanto aqueles que esperam um conjunto de homilias musicadas: este disco está infectado de pop por todos os tempos e todos os temas, que se ouvem, com sinais ostensivos de quem sabe como se faz uma canção e como usá-la.

Quem, como eu, assistiu aos rótulos fáceis e injuriosos colocados a um grupo de música moderna no principio dos anos 80 - sim, os Heróis do Mar e sim, uma das inspirações confessas de Fúria - sabe como poderia ser tentador arrumar esta arte numa gavetinha ideológica. Mas felizmente os tempos mudaram e maravilhosamente permitem que a obra de Fúria se revista de uma contemporaneidade (e a perenidade possível na pop) que não oferece dúvidas. Manuel Fúria é um incansável fazedor que embora descontente com o tempo a que pertence exige mostrá-lo com as armas que estes dias lhe dão. A prova - para além da sua música - está na editora Amor Fúria, que tal como a sua quase irmã Flor Caveira, sabem como dizer o que querem dizer. E que é muito e é preciso.

Antes de terminar, uma palavra para os músicos que participam no disco, quase todos eles ligados a outras bandas ou iniciativas em nome próprio. Este é um espírito de partilha recente na música moderna portuguesa, impensável no dealbar da década de 80, e que agora surge naturalmente graças a uma nova mentalidade. A saudável promiscuidade artística que pequenas editoras como a Amor Fúria, Flor Caveira (para ficar por aqui) apresentam são indícios de tempos novos, longe da ideia paroquial de «o meu talento é único e não o divido com ninguém».  

Depois da caminhada que fez com Os Golpes, em que tantas vezes foi reduzido a um reflexo voluntário de algo que já foi feito, Manuel Fúria precisava de um disco assim. Onde a sua voz e a sua alma esteja solta como ele gosta: em partilha. Amanhã? Não sei. Como ele, contento-me com hoje e remeto-me à mesma fonte e origem de todos os desafios: «Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações»(Mt, 6, 34). É urgente alistarmo-nos nesta Revolução da Esperança.  

Nuno Miguel Guedes

Concertos dia 22 e 23 de Fevereiro, respectivamente no Ritz Clube em Lisboa e no Plano B no Porto. O disco é o bilhete. Mais informações aqui no sítio da Fnac.

terça-feira, julho 19, 2011

Notas

Uma montanha por cumprir, solidões por agrupar. O país do anúncio, diferente daquele que guardamos na memória mas que existe no precipício da esperança.
Manuel Fúria


Dá-me a voz das pedras, das pedras dá-me a voz
Não largar a festa, não largar a foz
Tenho um arcaboiço e uma faca afiada
Mas ainda não sou 
Os Velhos


Cada artista vem ao mundo para dizer só uma coisa, une seule toute petite chose. É só isso o que tem de encontrar, agrupando tudo o resto em redor dela. 
Paul Claudel

quinta-feira, julho 14, 2011

Imagens e som em movimento para promover o segundo disco que assino em nome próprio.


 Depois de Manuel Fúria apresenta As Aventuras do Homem Arranha de 2008, segue-se Manuel Fúria Contempla Os Lírios do CampoA sair para o comércio da especialidade no último trimestre de 2011 através da Amor Fúria, Companhia de Discos do Campo Grande
A coisa foi filmada pelo Frederico Torres Pereira na primeira apresentação de Manuel Fúria com os Náufragos. No Promontório, em Lisboa.

quinta-feira, setembro 30, 2010

Só para avisar aqueles que poderão estar interessados que o processo d'Os Lírios Do Campo está neste momento refém de outras produções prioritárias. O disco em causa voltará à carga em tempo útil. Até lá.

segunda-feira, agosto 16, 2010

Lírios Do Campo - Dia Dez

Após a avalanche de convidados, o período de captação sonora acalma e passamos a trabalho de computador.
Desta maneira Os Lírios Do Campo encerram a sua actividade por agora. Segunda Volta de gravações para breve. Até lá.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Os Lírios Do Campo - Dia Nove



Sol, Azul e Violência. 
Hélio, a Besta, Morais (dos Linda Martini e dos Paus) passou pelos Lírios do Campo e libertou animais selvagens para cima de uma canção chamada Jogo Do Sapo. Estivemos a tarde inteira a descodificar a melhor maneira de revelar a intensidade que se comprime num homem do campo quando está numa cidade grande, como o Júlio d'Os Verdes Anos, encalhado entre a Avenida de Roma e a Estados Unidos da América. Depois ainda cometi a audácia de colocar o Hélio de pantufas a acompanhar uma balada cujo título dá nome ao disco. É obra.

Lírios Do Campo - Dia Oito ("aos vivos")



Regressei às baterias e desta vez foi o Fred dos Orelha Negra, dos Oioai e de mais mil coisas deste nosso Portugal, que me ajudou a animar as guitarras e as palavras. Foi uma tarde com sol, minis, discos dos Beatles e inspirações negras. "Lá Na Aldeia" e "Em Virtude De Um Rio": canções que para celebrar pessoas vivas.

quarta-feira, agosto 11, 2010

Lírios Do Campo - Dias Seis e Sete


O Silas partiu algures para os Algarves. Agora estou apenas eu a gravar, num exercício Brian Wilsoniano só que em pior. Escolhi as canções mais duras para fazer sozinho e a coisa está ser de facto mais difícil. Estas cantigas dão dores de cabeça, não tanto no aspecto formal antes pelas coisas que têm lá dentro. Hoje esteve um dia esplendoroso e eu aqui enfiado. Preciso de luz. Até logo.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Lírios Do Campo - Dia Quatro e Cinco



O Montenegro mandou-se para a Mizarela, lá para os lados da Guarda, na Beira Interior, mas deixou algumas das melhores linhas de baixo que ouvi nos últimos tempos. Domingo é para descansar e para agradecer a Deus o privilégio de poder estar a gravar estas músicas, para agradecer os amigos e o seu talento e também as armas que me deu.
Entretanto chegou Silas Ferreira, o Ruim, o Maldito, o Hispânico (Te Voy A Matar, Ninivitas, Pontos Negros) com o seu triste oboé e ideias para samplar velhos êxitos dos Aphrodite's Child. Fortuna a minha de ter um Pai com alguns LPês. 
Isto está cada vez melhor...

sábado, agosto 07, 2010

Lírios Do Campo - Dia Três



A carruagem segue na companhia do Luís Montenegro. O sacana do miúdo é mesmo talentoso. Não só sabe das eletrónicas como tem grande apetência para as melodias. 
Avançámos três cantigas com uma pinta do caraças. A coisa descambou para o lado épico, como é mais ou menos normal nas aventuras que começo, mas a referência é menos Arcade Fire e mais Waterboys (We Will Not Be Lovers). Citação do Luís: Meu, tens de ouvir isto!, filha da mãe dum páuer!
Nos dias que se seguem mais gente deverá parar por aqui. Menos a Miriam Macaia que levou uma cutelada  no dedo mindinho e não consegue segurar no arco. Procuram-se violoncelistas ou viola-gambistas ou viola-arquistas. Alguém?

Lírios Do Campo - Dia Dois


O Martinho voltou para Ponte de Lima, mas deixou um harmónio reverente e um teclado que me casablanqueou completamente uma cantiga bem acelarada (acho que lhe vou chamar "Canção Para Casar Contigo"). 
Quem chegou entretanto foi o prodígio das eletrónicas, Luís Montenegro (na fotografia em cima é o da direita), dos SALTO e dos Klinton Kings. Com ele por cá os Lírios ficam mais próximos das coisas dos novos tempos. 

sexta-feira, agosto 06, 2010

Lírios Do Campo - Dia Um


O som ficou feito e já estão registadas três baterias, à custa da competência do Lucas.
Em virtude de uma investida fluvial pelo Alto Douro teve de se ausentar d'Os Lírios do Campo. 
Hoje chegou o Martinho, do Deserto Branco; esperam-se teclados pim pam pum e reverberação, muita reverberação.

quarta-feira, agosto 04, 2010

Lírios Do Campo - Dia Zero



Chegamos na terça-feira à noite, o dia que precedeu a gravação do novo teledisco d'Os Golpes. 
O plural existe porque conto com a assistência e sensibilidade sónica de Lucas, o baterista místico. Enquanto não está com Os Velhos está por aqui a ajudar. 
Já está tudo montado. 
Começamos a fazer o som hoje, quarta-feira.