Não está em meu poder a possibilidade de escapar a esta intimidade com uma certa ideia de Portugal. É uma associação recíproca entre o sujeito da canção e as ruínas que restam de um país que não é o da Selecção Nacional de Futebol, nem do Tomás Taveira, nem dos centros-comerciais-que-são-os- maiores-da-península. É de outra ordem e é possível encontra-lo nesses lugares ondes os homens jogam cartas e falam pouco, onde o porco é morto em família, onde a maquinaria das coisas reserva-se a não alinhar com uma certa ideia de progresso.
quarta-feira, dezembro 29, 2010
segunda-feira, dezembro 27, 2010
A cruz que me foi entregue
Não será tanto uma inclinação patriótica como ideia de uma disposição serviçal, discricionária, indiferenciada aos desígnios da nação, mas antes qualquer coisa mais próxima dos versos de Alexandre O'Neill no poema Portugal (Feira Cabisbaixa, 1965): "Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo, / golpe até ao osso, (...) meu remorso, / meu remorso de todos nós...".
sexta-feira, dezembro 24, 2010
terça-feira, dezembro 21, 2010
terça-feira, novembro 23, 2010
Não ser
Por vezes estou letárgico, dúbio, indiferente.
Pairo sobre tudo e nada, vegeto, sobrevivo,
existo
e não sou.
Então, o tempo também não passa.
Invento aquilo que sou capaz, o que é pouco
e portanto não me satisfaz.
A minha noção das coisas é difusa, obtusa,
rasa a realidade
mas está aquém,
ou, digo bem,
além,
na semi-obscuridade da neblina,
em que repousam indiferentes os seres cansados de não ser.
Gil Teixeira
quinta-feira, novembro 11, 2010
Coisas que irritam #13
Malta que arruma discos dos Joy Division ao lado dos discos dos Velvet Underground.
terça-feira, novembro 09, 2010
Os meus sonhos pope
É que a minha relação com a música pope é sobretudo emocional. Uma torrente de Amor e seus derivados. O que vale de mim a aguda noção de pertença ou a fuga armada em direcção a um sentido comunitário? Não faço ideia.
sexta-feira, novembro 05, 2010
Segundo Postal Para Os Músicos Portugueses
A grande diferença entre a música pope feita hoje em Portugal e a da década de 1980 é que hoje o fosso entre a coisa marginal e a coisa mais popular é muitíssimo maior. A densidade desse buraco está também ligada às formas que a coisa marginal insiste em colocar em causa.
quinta-feira, novembro 04, 2010
quarta-feira, novembro 03, 2010
Nome
Eu gosto de rótulos. É uma maneira simples e fácil de organizar o mundo. Poupam-se mal entendidos embora se criem outros, mas esses têm piada, ou pelo menos dão alguma pica. Por isso tenho tentado dar um título, mais ou menos pomposo, à visão que tenho das coisas do mundo. Depois de duas tentativas mais ou menos infelizes acredito ter encontrado o rótulo mais adequado. Provavelmente diria para não se assustarem mas dá-me um certo gozo provocar reacções fortes.
terça-feira, novembro 02, 2010
Viriato 25
A relação que tenho com o António Sérgio é algo mais ou menos distante e está situada em primeiro lugar na minha infância através da mediação do meu irmão e irmã mais velhos que ouviam e gravavam cassetes do Som Da Frente. Recordo ainda o efeito que esses programas tiveram no meu irmão que com 15 anos chegou a ter um programa na Rádio Voz Ponte Velha, (durou 2 modestas emissões) chamado Orifício, no qual se passavam discos do Marco Paulo em rotações erradas, Pixies e ainda alguma maledicência apontada à comunidade Tirsense. A partir da minha infância mais tardia comecei a consumir os tais registos e foi, também, através deles que o meu repertório musical interior se foi consolidando. Lembro precisamente a primeira vez que ouvi a canção Saudade dos Love and Rockets numa dessas gravações e por isso vou pô-la a tocar.
segunda-feira, novembro 01, 2010
quarta-feira, outubro 13, 2010
sexta-feira, outubro 08, 2010
A Língua Da Tua Mãe
com certeza que escolho uma imagem com um belo par de patilhas
O Mário Vargas Llosa é o novo prémio nobel da literatura e disse assim.
Não sou apenas eu que recebo este prémio,
é também a língua em que escrevo e a minha região.
quinta-feira, setembro 30, 2010
terça-feira, setembro 07, 2010
Setembro em Évora
Estou com Os Velhos em Évora. Esta será a minha mais comprometida produção musical até à data. Estou na companhia da lenda do som, José Fortes (procurem no google). Aprendo e anseio. Daqui a muitos anos comover-me-hei a ouvir os resultados desta temporada. É que não passa apenas pelo artifício sonoro da edição em causa ser convenientemente amigo de uma sensibilidade neo-realista, mas também passa por aí.
sexta-feira, setembro 03, 2010
Ele sabia que ela era a sua salvação
Fria mas bondosa, glaciar
racional só que instintiva
madura mas ainda uma criança
deste tempo
de outro tempo
de outro tempo
Muito ingénua, muito agreste.
Alice, uma rapariga atlântica
a lembrar o primeiro visionamento do 8 1/2
sexta-feira, agosto 20, 2010
segunda-feira, agosto 16, 2010
Lírios Do Campo - Dia Dez
Após a avalanche de convidados, o período de captação sonora acalma e passamos a trabalho de computador.
Desta maneira Os Lírios Do Campo encerram a sua actividade por agora. Segunda Volta de gravações para breve. Até lá.
sexta-feira, agosto 13, 2010
Os Lírios Do Campo - Dia Nove
Sol, Azul e Violência.
Hélio, a Besta, Morais (dos Linda Martini e dos Paus) passou pelos Lírios do Campo e libertou animais selvagens para cima de uma canção chamada Jogo Do Sapo. Estivemos a tarde inteira a descodificar a melhor maneira de revelar a intensidade que se comprime num homem do campo quando está numa cidade grande, como o Júlio d'Os Verdes Anos, encalhado entre a Avenida de Roma e a Estados Unidos da América. Depois ainda cometi a audácia de colocar o Hélio de pantufas a acompanhar uma balada cujo título dá nome ao disco. É obra.
Lírios Do Campo - Dia Oito ("aos vivos")
Regressei às baterias e desta vez foi o Fred dos Orelha Negra, dos Oioai e de mais mil coisas deste nosso Portugal, que me ajudou a animar as guitarras e as palavras. Foi uma tarde com sol, minis, discos dos Beatles e inspirações negras. "Lá Na Aldeia" e "Em Virtude De Um Rio": canções que para celebrar pessoas vivas.
quarta-feira, agosto 11, 2010
Lírios Do Campo - Dias Seis e Sete
O Silas partiu algures para os Algarves. Agora estou apenas eu a gravar, num exercício Brian Wilsoniano só que em pior. Escolhi as canções mais duras para fazer sozinho e a coisa está ser de facto mais difícil. Estas cantigas dão dores de cabeça, não tanto no aspecto formal antes pelas coisas que têm lá dentro. Hoje esteve um dia esplendoroso e eu aqui enfiado. Preciso de luz. Até logo.
segunda-feira, agosto 09, 2010
Lírios Do Campo - Dia Quatro e Cinco
O Montenegro mandou-se para a Mizarela, lá para os lados da Guarda, na Beira Interior, mas deixou algumas das melhores linhas de baixo que ouvi nos últimos tempos. Domingo é para descansar e para agradecer a Deus o privilégio de poder estar a gravar estas músicas, para agradecer os amigos e o seu talento e também as armas que me deu.
Entretanto chegou Silas Ferreira, o Ruim, o Maldito, o Hispânico (Te Voy A Matar, Ninivitas, Pontos Negros) com o seu triste oboé e ideias para samplar velhos êxitos dos Aphrodite's Child. Fortuna a minha de ter um Pai com alguns LPês.
Isto está cada vez melhor...
sábado, agosto 07, 2010
Lírios Do Campo - Dia Três
A carruagem segue na companhia do Luís Montenegro. O sacana do miúdo é mesmo talentoso. Não só sabe das eletrónicas como tem grande apetência para as melodias.
Avançámos três cantigas com uma pinta do caraças. A coisa descambou para o lado épico, como é mais ou menos normal nas aventuras que começo, mas a referência é menos Arcade Fire e mais Waterboys (We Will Not Be Lovers). Citação do Luís: Meu, tens de ouvir isto!, filha da mãe dum páuer!
Nos dias que se seguem mais gente deverá parar por aqui. Menos a Miriam Macaia que levou uma cutelada no dedo mindinho e não consegue segurar no arco. Procuram-se violoncelistas ou viola-gambistas ou viola-arquistas. Alguém?
Lírios Do Campo - Dia Dois
O Martinho voltou para Ponte de Lima, mas deixou um harmónio reverente e um teclado que me casablanqueou completamente uma cantiga bem acelarada (acho que lhe vou chamar "Canção Para Casar Contigo").
Quem chegou entretanto foi o prodígio das eletrónicas, Luís Montenegro (na fotografia em cima é o da direita), dos SALTO e dos Klinton Kings. Com ele por cá os Lírios ficam mais próximos das coisas dos novos tempos.
sexta-feira, agosto 06, 2010
Lírios Do Campo - Dia Um
Em virtude de uma investida fluvial pelo Alto Douro teve de se ausentar d'Os Lírios do Campo.
Hoje chegou o Martinho, do Deserto Branco; esperam-se teclados pim pam pum e reverberação, muita reverberação.
quarta-feira, agosto 04, 2010
Lírios Do Campo - Dia Zero
Chegamos na terça-feira à noite, o dia que precedeu a gravação do novo teledisco d'Os Golpes.
O plural existe porque conto com a assistência e sensibilidade sónica de Lucas, o baterista místico. Enquanto não está com Os Velhos está por aqui a ajudar.
Já está tudo montado.
Começamos a fazer o som hoje, quarta-feira.
quarta-feira, julho 21, 2010
quinta-feira, julho 08, 2010
Primeiro Postal Para Os Músicos Portugueses
Um dos mais graves defeitos de sucessivas gerações de músicos portugueses, pelo menos até 2008, é a profunda falta de empatia com a inocência que a coisa pope exige, pede, reclama.
Sofro porque existem pessoas que entram nos meus sonhos enquanto durmo.
Uma delas há já 10 anos que me aparece no sono.
Estes sonhos perturbam-me porque alteram os meu sentimentos.
Quando eu sonho perco a razão e sinto coisas que não quero.
Não quero acordar a gostar dela.
Nem a querer abraça-la. Nem a sorrir.
Nem a querer abraça-la. Nem a sorrir.
Esse é um erro antigo.
Não quero regredir.
Não quero regredir.
Quando amo alguém faço-o para sempre.
Mas por várias razões sempre sou obrigado a descontinuar o amor.
Isso é muito triste.
Vou ter de ganhar coragem e aceitá-la também nos meus sonhos, para sempre...
quarta-feira, julho 07, 2010
Postal para Marcos Barbosa
pisquei várias vezes os olhos
continuando incrédulo perante as suas façanhas
saltos, cambalhotas e piruetas, fintas aos postes no passeio
e também quedas espalhafatosas aguentadas
na elasticidade do seu corpo
na elasticidade do seu corpo
de super herói.
Sou de um País
os capitães da areia, porto côvo, vila do conde, moreira de cónegos, velocípedes órbita,
ser adolescente e descobrir as coisas pela primeira vez.
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Sou De Um País
sexta-feira, julho 02, 2010
quinta-feira, julho 01, 2010
quarta-feira, junho 30, 2010
Chave de Leitura #3
Tinha doze anos e descobriu na prateleira do seu irmão mais velho o "Never Mind The Bollocks" e o "Rude Boy" com o Clash.
segunda-feira, junho 28, 2010
quarta-feira, junho 23, 2010
Chave de Leitura #2
Ele não compreendia que ela tivesse preferido um rapaz que ouvia o Vitalogy em vez do Qualquer Coisa.
terça-feira, junho 22, 2010
Coisas que irritam #12
A construção de uma identidade precária. Ou, de um modo geral, qualquer manifestação de mediocridade.
sexta-feira, junho 18, 2010
Imagino
um lugar a preto e branco, um lugar onde se nasce para correr, um lugar sem vingança. Nesse lugar é tudo muito alto e há fervor em cada passo ou em cada acorde. Nesse lugar quem manda é o Bruce Springsteen.
quinta-feira, junho 17, 2010
SINOPSE DA VERDADE-NACIONAL!
Ele parte de si próprio. Da sua fundação. Do momento inaugural, a parição da História. Ele não é ele, é todos. Um homem vezes todas as histórias de todas as guerras, de todas as mortes, de todos os sangues, de todos os choros, de todos os dentes arrancados em Portugal, país por concretizar. Regional, coração transparente, extirpa-te das tripas a Pátria encravada e devolve-ta exactamente assim: escarro, sonho, parede pintada que afirma exactamente assim: "É claro que acredito no Quinto Império, porque senão o acto de viver era inútil", quem o diz é o Agostinho da Silva, vais contrariá-lo?
quinta-feira, junho 10, 2010
É oficial, o aportuguesamento gráfico roque já é património púbico.
quarta-feira, junho 09, 2010
segunda-feira, junho 07, 2010
A Canção de Lisboa
A propósito da vinda de Bento XVI a Portugal e do seu discurso perante os agentes culturais no CCB, reparo no séquito que apresenta reverência a Sua Santidade, ainda em cima do palco do Grande Auditório. A representar a música popular portuguesa está a Carminho. Não está o Rui Reininho, nem o Rui Pregal da Cunha, nem o Pedro Ayres Magalhães nem o Tim. Nem sequer a Ana Bacalhau ou o Sérgio Godinho.
Fado, fado, fado: canção de um país endividado.
sábado, junho 05, 2010
Razões para uma ausência
Alguma indisciplina
Avaria informática
Azar
Outro azar
Conta-me um querido amigo que devemos concentrar-nos no
quão generosos são os momentos em que
quão generosos são os momentos em que
o martelo não bate na cabeça.
Não faço ideia,
sou um novo Novo Romântico com ambições salteadoras.
O Inventor está de volta à sua actividade regular.
quarta-feira, abril 21, 2010
Chave de Leitura #1
À beira do abismo o homem gritava: Eu não sou eu!
Cá em baixo as pessoas refutavam: Tu és tu!
O homem caiu e as pessoas aperceberam-se que de facto não era ele, era o primo.
Cá em baixo as pessoas refutavam: Tu és tu!
O homem caiu e as pessoas aperceberam-se que de facto não era ele, era o primo.
terça-feira, abril 20, 2010
ABRIL
Abril é o meu mês. Isto tem a ver com aniversários, com a ilusão de 1974, com dois ou três filmes que vi no cinema e outros tantos que vi na televisão, com as andorinhas, com a chuva que aprendemos a deixar cair, com a fonética da própria palavra: A BRIIL.
Como todas as coisas boas, Abril é uma ideia, uma boa ideia, por isso nem todos os anos se concretiza e às vezes a sua concretização não acontece necessariamente em Abril. Enuncia-se uma canção do próximo disco d'Os Velhos, é o tempo dos passeios, duas da manhã, noites sem dormir.
Abril, em 2010, é um processo já em curso.
Como todas as coisas boas, Abril é uma ideia, uma boa ideia, por isso nem todos os anos se concretiza e às vezes a sua concretização não acontece necessariamente em Abril. Enuncia-se uma canção do próximo disco d'Os Velhos, é o tempo dos passeios, duas da manhã, noites sem dormir.
Abril, em 2010, é um processo já em curso.
segunda-feira, abril 19, 2010
queriam ser Ingleses porque na Inglaterra há Trabalhistas (e uma bela bandeira) queriam ser Americanos porque nos Estados Unidos há Democratas (e uma bela bandeira) queriam ser da Cultura Popular sem se sentirem estrangulados pelo inexorável juíz da Esquerda Intelectual do seu país em Portugal queriam cantar, dançar e eventualmente partir uns vidros formaram uma banda e chamaram-lhe "LEGIÃO ESTRANGEIRA" todos os elementos do agrupamento, sem excepção, estranharam tão boa recepção por parte dos sectores da especialidade aborrecidos com tanto consenso apontaram um caminho situacionista a ver se a coisa icendiava durante um tempo usaram o nome "OS PORTAS" que abandonaram por serem tomados por número de revista
continua
terça-feira, abril 06, 2010
Vinte e Sete
- a idade da Janis Joplin;
- uma geração de poetas espanhóis;
- a idade do Jim Morrison;
- uma série de filmes de um grande amigo;
- a idade do Jimmy Hendrix;
- a idade do Kurt Cobain;
- menos um número, antes uma vocação.
segunda-feira, abril 05, 2010
A segunda-feira que sucede o Domingo de Páscoa
O primeiro passo é dado na margem citerior, de olhos colocados no lado de lá e depois compreende-se:
A narrativa Bíblica, da História, do quotidiano ou das coisas por acontecer, é clara:
A liça está sempre aberta:
Não há senão começos:
domingo, abril 04, 2010
O meu catolicismo
está já tão entranhado, que em plena A1, atropelei um coelho no Domingo de Páscoa. Rituais pagãos tremei!
A veracidade dos factos, aliada à coicidência das circunstâncias validam a escrita de um postal no Domingo de Páscoa.
A veracidade dos factos, aliada à coicidência das circunstâncias validam a escrita de um postal no Domingo de Páscoa.
sábado, abril 03, 2010
quinta-feira, abril 01, 2010
Panfleto
A relação entre a canção, o real e a ficção, encontra sustento numa inevitável atracção magnética. Na torrente rítmica de uma expressão cantada deverá ser considerada a plausibilidade de pesadas gotas de sangue ou outras flores, de outras cores.
quarta-feira, março 31, 2010
O Melhor Álbum Dos Anos Zeros
é este: A Ghost Is Born, em português, Nasceu Um Fantasma - WILCO.
Está tudo certo neste disco: épicas nostálgicas progressões, canções pope directas, aguçadas e a brilhar, roque lixado desempoeirado pronto para partir todos os vidros de todas as casas, durações animais; e depois as ligações estéticas completamente ao rubro: o country e toda a americana, o vanguardismo de Chicago via Jim O'Rourke (que é o meu produtor preferido), o roque ene role que se fazia sentir em Nova Iorque e em todo o lado.
Ele faz-me improvisar segundas vozes sem eu me aperceber, ele é portador da derradeira verdade da ideia do álbum: um conjunto de canções reunidas num objecto que tem uma capa, uma intenção, e que acrescenta mundivisão. Sim, disse mundivisão.
sábado, março 27, 2010
quinta-feira, março 25, 2010
Expressões Idiomáticas
Nunca perceberei o Hip Hop (circunstâncias de ser católico menino branco), mas há rimas de valor. Rimas com muito valor. Como esta que nunca saiu do meu espírito e cuja permanência por aqui lhe adicionou um carácter proverbial.
Quanto mais o tempo passa, mais hipóteses de ressaca.
Coisas Que Irritam #11
Confundir Humildade com Auto-Flagelação. Quero dizer: aquela linha joão-pedro-pais-tenham-pena-de-mim-que-sou-um-coitadinho.
Coisas Que Irritam #10 (ou das vicissitudes do quotidiano de um rapaz solteiro)
Ser forçado a colocar água no interior do recipiente de modo a conseguir obter mais champô.
terça-feira, março 23, 2010
sexta-feira, março 19, 2010
Portugal, Seu Amor
Estar de frente sempre de frente de frente sempre para o mar atlântico!
(é que o meu amor está no lugar onde me ergui)
quinta-feira, março 18, 2010
Panfleto
- que celebre a vida, um cinema vivo;
- que não tenha de ser bom, tenha de ser sério;
- que assuma filiação em Kiarostami via Rosselini;
- que destrua as fronteiras da ficção e do documentário;
- sem actores;
- com pessoas;
- que confunda ontem, hoje e amanhã;
- pobre;
- que é produzido no improviso e na reacção;
- da assimetria, da rua, da sujidade, da beleza e de Portugal;
- que interfere no devir.
Com dedicatória e saudade para o Tiago.
quarta-feira, março 17, 2010
O Sabor do Sapo
Por ser saloio ou por pura contigência da idade, nunca me permiti a gostar de Pink Floyd para lá da fase Syd Barret. Recordo certa noite, em plena frescura universitária, o sabor do sapo que engoli ao reconhecer a grandeza do Meddle, não terá sido particularmente azedo mas ainda assim um anfíbio traqueia a baixo a tornar claro que o após 1967 não era bem aquilo que eu tinha construído na minha cabeça. Foram precisos alguns anos e algumas experiências sonoras em banda para chegar mais perto daquilo que é a expressão fiel da natureza do agrupamento inglês. Dessa aproximação não restou qualquer porção da ingenuidade antecedente. Assim, sem penas. Syd Barret continua a dominar certa parte dos meus sonhos pope, mas o que veio a seguir parte tudo. Verbo Partir, de quebrar.
No quotidiano que percorro agora, invariavelmente deliro com ilusões de Pompeias, Ecos, Cães, Diamantes Marados, Paredes e Lados Obscuros. E Pompeias, Pompeias...
No quotidiano que percorro agora, invariavelmente deliro com ilusões de Pompeias, Ecos, Cães, Diamantes Marados, Paredes e Lados Obscuros. E Pompeias, Pompeias...
Com dedicatória para Luís Afonso.
quinta-feira, março 11, 2010
sexta-feira, março 05, 2010
O navio a vapor era retratado como portador de luz e de rectidão moral, descreve Sven Lindqvist em "Extreminem Todas As Bestas". A citação é transposta para aqui apenas e só nesta medida: que veículo, que monumento, que edifício, que invenção o fará agora? Que representação o fará no futuro? Nenhuma. Já não existem navios no mar.
quinta-feira, março 04, 2010
Meteorologia #7 (Projecto de Vida)
Muita luz a trespassar o manto branco da camada nebulosa que aperta Lisboa. Condição de cidade quase, quase lá, mas como se sabe a metrópole lida mal com tudo o que seja menos que o esplendor. É como o som dos tambores que atravessa todo o Aftermath, caixotes a reverberar num enorme salão de baile, 1966. Projecto de vida: sacar um som de bateria assim em 2010.
terça-feira, março 02, 2010
Possibilidade
que seja impossível estar sentado, viver descansado.
que seja impossível contemplar na margem de um rio.
que não haja nunca paz.
que não se possa passear, imaginar um jardim.
que à nossa volta seja só medo e terror, expectativa de dor.
que seja impossível o mar parado, morrer descansado.
que seja impossível contemplar na margem de um rio.
que não haja nunca paz.
que não se possa passear, imaginar um jardim.
que à nossa volta seja só medo e terror, expectativa de dor.
que seja impossível o mar parado, morrer descansado.
segunda-feira, março 01, 2010
Panfleto
A Barbárie Começa Em Casa
Rapazes que não se submetem, que não crescem, devem ser tomados pela mão. Raparigas que não se submetem, que não assentam, elas devem ser tomadas pela mão. Um golpe na cabeça é o que levas por perguntar. Um golpe na cabeça é o que levas por não perguntar.
A pedagogia é de Morrissey, deus das flores e dos massacres; a lixada-guitarra-encantada é do Johnny Marr.
Rapazes que não se submetem, que não crescem, devem ser tomados pela mão. Raparigas que não se submetem, que não assentam, elas devem ser tomadas pela mão. Um golpe na cabeça é o que levas por perguntar. Um golpe na cabeça é o que levas por não perguntar.
A pedagogia é de Morrissey, deus das flores e dos massacres; a lixada-guitarra-encantada é do Johnny Marr.
quinta-feira, fevereiro 25, 2010
A Invencibilidade do Estado Melacólico Causado Pela Falta de algo
A lgures entre 1990 e 1999 sentiu-se odor a ressaca, bloqueio angst, forças de reacção. Mas, apesar de todas as tentativas, nem os Radiohead conseguiram matar a coisa pope. Das páginas desse comatoso libretto, até 2010 foi um salto, e na duração desse salto renasceu o roque, o apreço pelas formas pope clássicas, a sistemática exploração do imaginário sonoro e imagético de todos os excessos e não excessos dos 1980 e muita, muita criatividade proliferada em dezenas de "cenas", daqui até Brooklyn. Pelo menos foi assim que organizei mentalmente a coisa.
Por estarmos mais sozinhos e porque vamos ficar cada vez mais sozinhos, porque a experiência comunitária se fragmenta e fragmentará cada vez mais, porque os ícones agregadores ou as referências morais, sociais e políticas se vão tornando cada vez mais oblíquas, cada vez mais opacas, cada vez mais passíveis de indiferença, das duas uma, ou isto vai tudo pelos ares ou o caminho que começou em 2000 agravar-se-á. O que, musicalmente falando, pode ser bom. São estas as circunstâncias que geram coisas como os Animal Collective ou o Tiago Guillul, a Micachu ou Os Capitães da Areia. Ainda há algumas peças de fundo de catálogo para explorar no filão 80 e há quem, naturalmente, prefira o conforto de um lugar que já foi habitado ao confronto com a fragilidade daquilo que virá. A nostalgia, magia, doentia prosseguirá, invicta. O futuro atropela-nos, rápido, violento, sem penas, na Internet e fora dela, as canções que povoarão os próximos dez anos serão necessariamente resistência ou cedência a todos estes mal-entendidos. Daí que se espere criatividade, cores e foguetes, excesso na oferta e na forma, exercícios revivalistas. Nos entroncamentos onde se pensa em Português, parece-me que a grande resistência e criatividade estará presente aí, nas palavras e no instinto tropicalista: pegar a coisa, virá-la ao contrário e torná-la nossa.
Pessoalmente, é essa a minha esperança e a minha luta. Aquilo que ainda agora começou tem pelo menos dez anos para continuar. E ressoar.
Mas, na verdade verdadinha, se querem que seja honesto, tudo isto não interessa para nada, o que se espera sempre, seja em que década for, são grandes bandas, grandes artistas e grandes canções capazes de nos arrebatar e transportar para longe. Se é para sermos atropelados, que seja pela música. Até lá.
Isto está disponível no Diário de Notícias de hoje.
Por estarmos mais sozinhos e porque vamos ficar cada vez mais sozinhos, porque a experiência comunitária se fragmenta e fragmentará cada vez mais, porque os ícones agregadores ou as referências morais, sociais e políticas se vão tornando cada vez mais oblíquas, cada vez mais opacas, cada vez mais passíveis de indiferença, das duas uma, ou isto vai tudo pelos ares ou o caminho que começou em 2000 agravar-se-á. O que, musicalmente falando, pode ser bom. São estas as circunstâncias que geram coisas como os Animal Collective ou o Tiago Guillul, a Micachu ou Os Capitães da Areia. Ainda há algumas peças de fundo de catálogo para explorar no filão 80 e há quem, naturalmente, prefira o conforto de um lugar que já foi habitado ao confronto com a fragilidade daquilo que virá. A nostalgia, magia, doentia prosseguirá, invicta. O futuro atropela-nos, rápido, violento, sem penas, na Internet e fora dela, as canções que povoarão os próximos dez anos serão necessariamente resistência ou cedência a todos estes mal-entendidos. Daí que se espere criatividade, cores e foguetes, excesso na oferta e na forma, exercícios revivalistas. Nos entroncamentos onde se pensa em Português, parece-me que a grande resistência e criatividade estará presente aí, nas palavras e no instinto tropicalista: pegar a coisa, virá-la ao contrário e torná-la nossa.
Pessoalmente, é essa a minha esperança e a minha luta. Aquilo que ainda agora começou tem pelo menos dez anos para continuar. E ressoar.
Mas, na verdade verdadinha, se querem que seja honesto, tudo isto não interessa para nada, o que se espera sempre, seja em que década for, são grandes bandas, grandes artistas e grandes canções capazes de nos arrebatar e transportar para longe. Se é para sermos atropelados, que seja pela música. Até lá.
Isto está disponível no Diário de Notícias de hoje.
quarta-feira, fevereiro 24, 2010
Raça da Verdade
Por falar em Homens-Verdade, aqui vai outro, menos Hipnótico Menino Branco, mais Católico Menino Branco. Jim Carrol e a sua banda-verdade, com a canção-verdade "People Who Died". Gente Que Morreu, em português.
terça-feira, fevereiro 23, 2010
Sou de um país
onde habitam os Homens-Verdade. Os Homens-Verdade são feitos de transpiração, de sangue, de choro. São construídos a partir de lobos. Têm terra nas unhas das mãos que não roem e nas frinchas da testa onde é possível interpretar a existência de luz e outros raios. São Homens que ostentam o nome que Deus escolheu para eles e que não ignoram o peso e a autoridade de um rio. Providencialmente viajam em contramão. Na realidade não são bem bem homens, antes ideias. A primeira delas todas é o Bruno Morgado.
segunda-feira, fevereiro 22, 2010
quinta-feira, fevereiro 11, 2010
quarta-feira, fevereiro 10, 2010
Coisas que irritam #8
Quando nos servem copos promocionais que não correspondem à bebida que foi pedida.
Alguém gosta de beber Sumol num copo de Super Bock?
Alguém gosta de beber Sumol num copo de Super Bock?
terça-feira, fevereiro 09, 2010
Gargalhada pós-moderna
A certa altura, durante o visionamento do Tudo Pode Dar Certo do Woody Allen, toda a sala se empolga em monumental gargalhada. Na cena em causa, um ultra-conservador cavalheiro do Sul, apercebe-se da sua homosexualidade reprimida em conversa com um alegre Nova Iorquino, saído directamente do Sexo e a Cidade. É preciso, em primeiro lugar, entender que nos filmes do Woody Allen, existe apenas uma personagem, a sua. O resto dos bonecos que compoem o enquadramento não passam disso mesmo: figuras bidimensionais, estereotipadas, que servem na definição da personagem principal ou no propósito burlesco. Isto tem piada. Mas não foi o factor risível desta construção aparentemente primária que despolotou a reacção. Foi um equívoco, outra coisa que não está ali. Foi o sentimento-vida-moderna-urbana de quem vai ao ginásio (obrigado Francisco pela imagem certeira) e está a par ou compreende a coisa. De quem já topou o que vai dentro de um origami. Desta espécie de holograma do Rhett Buttler. É um estava-se mesmo a ver tão óbvio quanto infantil. Sorte de contentamento ou alívio perante o desconforto da figura ultrapassada. Ah bom, afinal é como nós.
Vi a Fernanda Cãncio entrar para a sala de cinema, não faço ideia se participou ou não da catarse que aqui descrevo.
Vi a Fernanda Cãncio entrar para a sala de cinema, não faço ideia se participou ou não da catarse que aqui descrevo.
Da nossa insignificância
Invictus aborda a História como toda a História deve ser filmada, sem intenções virais, pairando sobre a memória. Clint Eastwood filma homens como se filmasse estátuas: na distância, no respeito e no pudor. É assim que se fundam os mitos, quando a forma se verga perante a impossibilidade de transpor a linha que contorna. A História é impenetrável e torna-se inspiradora precisamente por causa desse factor que nos afasta, que nos impede, que nos reduz à nossa insignificância.
sexta-feira, fevereiro 05, 2010
Panfleto
Quando tudo ruir, quando a bomba finalmente explodir, o que é que resta? Resta a língua materna. Hannah Arendt
Evangelho Quotidiano
Hoje a cabeça de João Baptista é oferecida sobre um prato. De que valem os juramentos que cumprimos neste mundo se nos traímos a nós e a Deus? tudo isto e muito mais em Marcos 6,14-29
quinta-feira, fevereiro 04, 2010
quarta-feira, fevereiro 03, 2010
Da República em Portugal e dos motivos para celebrá-la
Aqueles sítios em Coimbra onde os estudantes partilham poiso com garrafas de aguardente. O terror e o pandemónio, a desorganização e o poder da bala. O Dr. Soares. Será preciso dizer mais? Será. Repare-se na sequência histórica que sucedeu à morte do Rei D. Carlos. Uma I República do faroeste, 30 anos de ditadura + 30 de decadência. E uma bandeira feia, feia, feia.
terça-feira, fevereiro 02, 2010
Nacionalidade
Achei que era Grego até ao dia em que percebi que era Português. A partir daí tornei-me Romano.
Do meu nome
Na letra F do glossário da edição da Relógio d'Água do Fausto, essa das belíssimas ilustrações da Ilda David, surgem algumas pistas acerca do nome que um dia escolhi para mim. Também para me lembrar que tenho de ser um pouco menos diplomático.
Fúrias - Nome latino das Erínias, deusas da vingança e do castigo. Originalmente jovens e belas, transformam-se mais tarde em figuras terríficas de mulher, com serpentes nos cabelos, olhos gotejantes e baba na boca.
Fúrias - Nome latino das Erínias, deusas da vingança e do castigo. Originalmente jovens e belas, transformam-se mais tarde em figuras terríficas de mulher, com serpentes nos cabelos, olhos gotejantes e baba na boca.
segunda-feira, fevereiro 01, 2010
Aviso
A nostalgia, magia, doentia prosseguirá, invicta.
Esta frase faz parte de um texto maior, depois mostro.
Esta frase faz parte de um texto maior, depois mostro.
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